Waldir com
dois anos de idade e, no player, Dinorah
(Benedito Lacerda - José Ramos). Esta
gravação foi relançada no CD Waldir
Calmon - Sua Orquestra, Conjunto e Piano,
do selo Revivendo.
Waldir Calmon
Gomes nasceu em Rio Novo, pequena cidade
da zona da mata mineira, em 30 de janeiro
de 1919 (ver
mapa). Reza a
lenda que, quando Waldir
nasceu, a luz de Rio Novo,
que estava às escuras há
três dias, voltou...
Primeiro dos quatro filhos de Helena e Waldemar, teve uma
infância pobre. Sua mãe ensinou música a todos os filhos,
mas só Waldir demonstrou real interesse pela arte.
Helena Calmon
era uma menina rica que foi deserdada quando fugiu para se casar com Waldemar
- um rapaz muito pobre. A partir daí, teve uma vida de privações
até sua morte, com 42 anos. Porém, conseguiu transmitir aos
filhos a educação requintada que teve. Na foto acima, Waldir com
2 anos de idade.Abaixo, duas fotos de Rio Novo na época da infância de Waldir: a primeira
mostra a construção da estação de trem em 1928, e a
segunda, a praça central em 1930.
Aos catorze anos, Waldir formou um pequeno conjunto com
baixo, piano, bateria, trompete e sax. O grupo
apresentava-se em bailes por Rio Novo e Waldir, além de
tocar piano, cantava no estilo de Orlando Silva.
Seu pai
não aprovou a iniciativa, mas os rapazes continuaram assim mesmo,
pois o conjunto era um sucesso. "Éramos os únicos da cidade. Tinha
que dar certo!", divertia-se Waldir. Pouco
tempo depois, foi estudar na Academia de Comércio de Juiz de Fora,
Minas Gerais. Em 1936, com 17 anos, veio para o Rio de Janeiro, trazendo
uma carta de apresentação para o compositor e flautista Benedito
Lacerda. Graças a essa amizade, conseguiu um pequeno trabalho como
cantor e pianista na rádio Guanabara e apresentou-se em programas
de grande audiência, como O Nosso Programa, de
Ataulfo
Alves e Raul Longras, e Samba e Outras Coisas, de Marília
e Henrique Batista - ambos na rádio Cruzeiro do Sul. A convite
de Eva
Todor, começou a tocar também nos intervalos de seu espetáculo
no teatro Rival. Waldir logo desistiu de cantar e passou a
dedicar-se apenas ao piano, pois, segundo ele mesmo, não
possuía uma boa voz.
Nesta
fase, lançou o
primeiro solovox que chegou ao
Brasil. Jardel Jércolis trouxe para o
país este pequeno
sintetizador monofônico, de três oitavas, que era acoplado ao piano acústico, fazendo um som
bem
diferente. Fabricado pela
Hammond Organ Co
norte-americana,
entre 1940 e 1950, o solovox foi o precursor dos teclados eletrônicos em geral e era conectado a um gabinete com
um amplificador valvulado e alto-falantes de 8" que
geravam o som. Clique
aqui para ver fotos e ouvir o som
deste instrumento.
O solovox, o gabinete e
o piano Steinway & Sons
(que, no fim da década de
60, foi aposentado profissionalmente) eram guardados por
Waldir, com muito carinho, em sua própria casa.
Waldir, já com algum prestígio, foi
convidado
por Paulo Magalhães a
acompanhar a cantora Heloísa
Helena numatemporada no teatro
Casino, da Companhia
Henry Garat, em Buenos
Aires, Argentina.Sete meses depois, em 1940,
a morte de sua mãe obrigou-o a voltar
para o Brasil e decidiu abandonar a
música. Numa entrevista ao Jornal do
Brasil em 1975, explicou que Helena
Calmon foi a grande responsável por sua
carreira. "Foi minha mãe que me ensinou
a tocar piano, ajeitando com paciência
os meus dedos no teclado. Quando ela
morreu, tive raiva de tudo e resolvi
abandonar a música", justificou. Foi
trabalhar então no banco Moreira Salles, mas, como ele próprio dizia,
"era um péssimo bancário".
Durante a
Segunda Guerra, foi convocado e serviu no
Batalhão de Guardas da Presidência da República,
no Palácio do Catete, e um de seus companheiros de
pelotão foi o compositor e pianista Dick Farney.
Aos poucos, Waldir voltou à música e acumulou o trabalho
diurno com apresentações noturnas. Neste período,
trabalhou no teatro Serrador, na rádio
Globo e na boate
Meia-noite,
do Copacabana Palace. Para conciliar tudo isso, dormia apenas 30 minutos
por noite. "Eu tinha que acordar cedo por causa do exército. Colocava
três despertadores em uma panela e a vizinha fazia o café
para mim. Saía, agarrado ao balaústre do bonde, dormindo",
lembrava Waldir Calmon. Colocava o único terno que possuía
entre o colchão e o estrado da cama para ficar sempre esticado.
Foram tempos difíceis, mas ele sempre lembrava de seu passado com o
habitual bom-humor.