Waldir Calmon

Biografia (1919-1943)

Waldir com 2 anos
Dinorá  
Waldir com dois anos de idade e, no player, Dinorah (Benedito Lacerda - José Ramos). Esta gravação foi relançada no CD Waldir Calmon - Sua Orquestra, Conjunto e Piano, do selo Revivendo.

Waldir Calmon Gomes nasceu em Rio Novo, pequena cidade da zona da mata mineira, em 30 de janeiro de 1919 (ver mapa). Reza a lenda que, quando Waldir nasceu, a luz de Rio Novo, que estava às escuras há três dias, voltou...

Primeiro dos quatro filhos de Helena e Waldemar, teve uma infância pobre. Sua mãe ensinou música a todos os filhos, mas só Waldir demonstrou real interesse pela arte.
Helena Calmon era uma menina rica que foi deserdada quando fugiu para se casar com Waldemar - um rapaz muito pobre. A partir daí, teve uma vida de privações até sua morte, com 42 anos. Porém, conseguiu transmitir aos filhos a educação requintada que teve. Na foto acima, Waldir com 2 anos de idade. Abaixo, duas fotos de Rio Novo na época da infância de Waldir: a primeira mostra a construção da estação de trem em 1928, e a segunda, a praça central em 1930.

Estação de Rio Novo, MG, em 1928
Rio Novo, MG, em 1930

Aos catorze anos, Waldir formou um pequeno conjunto com baixo, piano, bateria, trompete e sax. O grupo apresentava-se em bailes por Rio Novo e Waldir, além de tocar piano, cantava no estilo de Orlando Silva.
Seu pai não aprovou a iniciativa, mas os rapazes continuaram assim mesmo, pois o conjunto era um sucesso. "Éramos os únicos da cidade. Tinha que dar certo!", divertia-se Waldir. Pouco tempo depois, foi estudar na Academia de Comércio de Juiz de Fora, Minas Gerais. Em 1936, com 17 anos, veio para o Rio de Janeiro, trazendo uma carta de apresentação para o compositor e flautista Benedito Lacerda. Graças a essa amizade, conseguiu um pequeno trabalho como cantor e pianista na rádio Guanabara e apresentou-se em programas de grande audiência, como O Nosso Programa, de Ataulfo Alves e Raul Longras, e Samba e Outras Coisas, de Marília e Henrique Batista - ambos na rádio Cruzeiro do Sul. A convite de Eva Todor, começou a tocar também nos intervalos de seu espetáculo no teatro Rival. Waldir logo desistiu de cantar e passou a dedicar-se apenas ao piano, pois, segundo ele mesmo, não possuía uma boa voz.

Nesta fase, lançou o primeiro solovox que chegou ao Brasil. Jardel Jércolis trouxe para o país este
pequeno sintetizador monofônico, de três oitavas, que era acoplado ao piano acústico, fazendo um som bem diferente. Fabricado pela Hammond Organ Co norte-americana, entre 1940 e 1950, o solovox foi o precursor dos teclados eletrônicos em geral e era conectado a um gabinete com um amplificador valvulado e alto-falantes de 8" que geravam o som. Clique aqui para ver fotos e ouvir o som deste instrumento. O solovox, o gabinete e o piano Steinway & Sons (que, no fim da década de 60, foi aposentado profissionalmente) eram guardados por Waldir, com muito carinho, em sua própria casa.

Solovox

Waldir, já com algum prestígio, foi convidado por Paulo Magalhães a acompanhar a cantora Heloísa Helena numa temporada no teatro Casino, da Companhia Henry Garat, em Buenos Aires, Argentina. Sete meses depois, em 1940, a morte de sua mãe obrigou-o a voltar para o Brasil e decidiu abandonar a música. Numa entrevista ao Jornal do Brasil em 1975, explicou que Helena Calmon foi a grande responsável por sua carreira. "Foi minha mãe que me ensinou a tocar piano, ajeitando com paciência os meus dedos no teclado. Quando ela morreu, tive raiva de tudo e resolvi abandonar a música", justificou. Foi trabalhar então no banco Moreira Salles, mas, como ele próprio dizia, "era um péssimo bancário".    

Durante a Segunda Guerra, foi convocado e serviu no Batalhão  de Guardas da Presidência da República, no Palácio do Catete, e um de seus companheiros de pelotão foi o compositor e pianista Dick Farney. Aos poucos, Waldir voltou à música e acumulou o trabalho diurno com apresentações noturnas. Neste período, trabalhou no teatro Serrador, na rádio Globo e na boate  Meia-noite, do Copacabana Palace. Para conciliar tudo isso, dormia apenas 30 minutos por noite. "Eu tinha que acordar cedo por causa do exército. Colocava três despertadores em uma panela e a vizinha fazia o café para mim. Saía, agarrado ao balaústre do bonde, dormindo", lembrava Waldir Calmon. Colocava o único terno que possuía entre o colchão e o estrado da cama para ficar sempre esticado. Foram tempos difíceis, mas ele sempre lembrava de seu passado com o habitual bom-humor.
Biografia (1944 - 1960)